Testemunhos da esperança
Testemunhos da esperança
MARIA ODETE DA COSTA: RAÍZES E RESISTÊNCIA
Maria Odete da Costa, a caçula de oito irmãos, cresceu em uma família marcada pela força e determinação. Filha de José Francisco e Georgina, Odete carrega em sua história a herança do pai, capataz da fazendo do “vô Zeca” (como eles chamavam) da família Costa. “Mas eu não sou Costa por causa deles, acredito temos esse nome por que meus ancestrais vieram da Costa do Marfim”. O pai, homem de respeito e confiança, cultivou valores de coragem e resiliência, refletidos na personalidade forte da filha. A mãe, católica, era Filha de Maria, cresceu dentro do Colégio Santa Rosa.
A infância de Odete foi repleta de aprendizados e desafios. Morando nos fundos da fazenda, experimentou a abundância familiar, onde sua mãe produzia alimentos e o pai garantia que nunca faltasse nada à mesa. Odete tomou consciência de sua identidade negra aos oito anos, quando, ao abrir a janela de seu quarto, viu suas mãos e pensou: "Eu sou diferente, sou preta." Esse momento revelador a fez perceber que, enquanto sua família era negra, seus vizinhos e patrões não compartilhavam da mesma cor. Essa reflexão trouxe à tona a noção de diferenças sociais e raciais, levando-a a entender o cuidado que seu pai tinha ao protegê-los de certos ambientes. Embora seus pais não falassem abertamente sobre racismo, suas atitudes mostravam preocupação, indicando que, embora não soubessem como enfrentar a discriminação, estavam sempre buscando formas de proteger seus filhos do preconceito.
Juventude e atuação comunitária
Na juventude, Odete se lançou em um caminho de militância e ativismo. Ao se mudar para a cidade, começou a trabalhar em um escritório de advocacia, onde também aprendeu sobre cidadania e direitos. Também começou a se envolver em pastorais socias e ações comunitárias. Ajudou a fundar a Associação de Moradores do bairro, atuando como presidente e organizando iniciativas voltadas para o empoderamento local. Ela fez o curso técnico de enfermagem, graduação em pedagogia, e especialização em Relações Étnicos Raciais. Odete também foi catequista e Ministra da Eucaristia, integrando a espiritualidade com a luta social. Nesse contexto, o encontro com a Irmã Olímpia foi muito importante, juntas trabalharam com mulheres marginalizadas, incluindo as empregadas domésticas que viviam situações de vulnerabilidade.
Esse trabalho comunitário a levou à Pastoral Afro, onde começou a articular ações voltadas para a valorização da cultura negra e a conscientização sobre o racismo. Com o apoio de Dom Oneres, ela participou ativamente das campanhas de fraternidade e se tornou uma voz respeitada em sua comunidade. Seu envolvimento com o Partido dos Trabalhadores (PT) também foi importante em sua trajetória. Odete se sentiu identificada com as propostas do partido, que refletem suas crenças e aspirações. Já foi candidata a vereadora e teve participação no diretório.
Odete compreende a importância das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como espaços de transformação social. Ela assumiu a coordenação da Pastoral Afro do Regional Sul 4, e essa tarefa fortaleceu a Pastoral Afro da Diocese de Lages. Todo esse trabalho levou ao reconhecimento e homenagens. Em 2002, recebeu, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), a Medalha Antonieta de Barros, pelos serviços prestados em defesa dos direitos da mulher. Em 2023, foi homenageada três vezes: em abril, pelas Mulheres Petistas do Estado; em junho, pelos 122 anos de nascimento de Antonieta de Barros na ALESC; em agosto, pela faculdade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.
Com sua trajetória marcada por um forte compromisso com a justiça social, Odete é hoje uma referência na luta pela igualdade e dignidade para todos. Símbolo de força, resiliência e luta por justiça social, sua trajetória transformou-se num ativismo vigoroso que impactou positivamente a comunidade e a diocese. Odete é uma voz poderosa na luta contra o racismo e em defesa dos direitos das mulheres e da população negra.