Diocese de Lages

Testemunhos da esperança


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Sidnez e Neide Furlan

A LUTA PRA NÓS É UM PRAZER: VIVEMOS ASSIM PORQUE GOSTAMOS

Um casal que ajudou a criar e dar nome ao Jornal Caminhada, atuando firme nas atividades diocesanas há 40 anos. Por muitos anos, participaram da Comissão Pastoral da Terra (CPT), CEBs e no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Curitibanos. Ainda hoje mantém essa lida e testemunho de vida e esperança. Sidnez tem 69, e Neide 68 anos, fazem de suas vidas  o testemunho da esperança, em buscar do bem viver, harmonia com a terra e em defesa da vida.  

CAMINHO PERCORRIDO

Neide nasceu no Rio Grande, e como os pais eram agricultores em Campos Novos,  foi registrada em Campos Novos. Quando ainda era criança, foram morar em Caçador, e depois em Curitibanos. “Mesmo com o pai indo trabalhar em outro lugar, nós fazíamos roça: a gente plantava milho, feijão, moranga, abóbora, tínhamos vaca de leite e criávamos galinhas”. Aprendeu desde pequena a usar os estercos das galinhas e do gado para colocar na terra. “Nós tínhamos uma horta bonita, com muitas verduras. Meu irmão saía pra vender as verduras e os ovos na vizinhança, pra ajudar o pai e a mãe a nos criar”. Neide relata a forma como foi criada, muito católica, sempre participando e ajudando na comunidade. “A gente não se levantava sem eagradecer e nem ia se deitar. A mãe era da Legião de Maria, e sempre rezávamos a Salve Rainha em italiano com o pai. São coisas que a gente não esquece”.

Sidnez nasceu em Orleans, “mas tive o privilégio de me criar em Taquaruçu, onde nasceu a Guerra do Contestado. Então, em função dessa história, ainda adolescente comecei a participar de reuniões e seminários. Ouvia muito sobre o sindicato – uma ferramenta de luta para o agricultor”. Sidnez entrou para o sindicato, e também começou a participar de alguns encontros ligados à Igreja e à Comissão Pastoral da Terra. 

“Nessa caminhada nós conseguimos fazer com que a 1ª Romaria da Terra, em 1986, fosse lá em Taquaruçu, por que tinha uma ligação com a história e São João Maria, dia da Santa Cruz, e todo esse simbolismo”. Nesse tempo, também ajudaram a criar o Conselho do Movimento dos Atingidos pelas Barragens e vários sindicatos. "Desde aquele tempo, a nossa busca era a Justiça Social”, afirma.

Para ele, hoje existe um conflito de entendimento. “Nós temos que observar que a nossa ignorância é tão grande que chegamos ao ponto de colocar veneno na comida das pessoas que a gente ama. E leitura é a forma que nós temos de prevenir esses perigos. Nós já distribuímos, só na nossa região, mais de 6 mil livros, de sociologia, história, plantas e ervas medicinais”. 

O casal se conheceu em razão do estudo de história. Sidnez trabalhava no sindicato, e Neide procurou saber mais sobre esse assunto. Ele vinha do sítio e parava na loja onde ela trabalhava para conversarem. Daí, foi um passo, e no ano de 1982 se casaram.  Quando tiveram a primeira filha, realizaram o batizado dentro do sindicato, tendo o pe. Geraldo Locks e a irmã Jandira Bettoni como padrinhos, e o pe. Dilmar Sell como celebrante. Eles tem três filhos, mas dizem que são quatro, pois ajudaram a criar o neto,  porque a filha mais velha estudava. “E temos os outros filhos, das pessoas do movimento, que nós ajudamos a criar também, por um certo tempo.”

Sidnez sempre incentivou a participação e militância da esposa nas pastorais e no movimento sindical. Neide participava em Curitibanos, começou a viajar  pela região, para Chapecó e até Brasília. “Foi assim, fui estudando a questão dos movimentos sociais, a valorização da mulher, a CPT e a Igreja. Nessa questão da agricultura, uma coisa que eu sempre amei e continuo amando são as sementes. A gente tem a mania de colocar as sementes no bolso e depois ir partilhando”. Além das sementes, tem as plantas medicinais, a bioenergia, que ela já fez vários cursos. Com a pastoral da saúde, faz uso e ensina a fazer tinturas e pomadas. Neide é uma das guardiãs de sementes da região. Foi homenageada em Brasília, inclusive pelos índios.

A harmonia e cuidado com a terra, uso de chás, e remédios naturais como tinturas e pomadas, são temas que eles trazem em três programas nas rádios locais.

O casal trabalha em família, de forma articulada, e também tem atuação política: pelo trabalho deles junto à natureza, ajudando pessoas, com a CPT e o sindicato, Sidnez foi vereador por dois mandatos, várias vezes presidente do sindicato rural e até juiz classista. Neide já assumiu a vereança por um tempo, Secretária de Agricultura e hoje é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Ruuais. O filho, Sidneyzinho, também foi vereador por dois mandatos.

Na casa deles, a mesa está sempre posta, sempre tem muitas frutas, eles trazem bastante coisa do sítio, porque sempre está chegando gente na casa deles, e “as pessoas levam”. Eles distribuem sementes, livros, frutas.  “Nós vivemos assim porque gostamos, é um prazer pra nós dois, comungamos da mesma ideia, isso é muito importante”.

                                                              Texto e fotos: Adriana Palumbo

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