Diocese de Lages

Testemunhos da esperança


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Homenagem Diocese de Lages - Eroni

UMA VIDA DEDICADA PARA A SOLIDARIEDADE 

Existe uma música que diz “Pra consertar esse planeta é preciso ter boa vontade e senso de humanidade”, essa canção, de autoria desconhecida, pode ser a trilha musical da vida de José Eroni Medeiros, o personagem do TESTEMUNHO DE ESPERANÇA da edição deste mês.

Seu Eroni, como é conhecido na Diocese, representa o testemunho em vida da solidariedade e doação em prol da construção de uma nova sociedade. Liderança da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, no bairro Guarujá em Lages, ele é referência em toda região serrana na luta em defesa das crianças e adolescentes. Integrante de diversas pastorais, Eroni foi conselheiro tutelar e assessor da Cáritas Diocesana de Lages, doou parte de sua vida em prol do evangelho e do testemunho de fé.

Nascido e criado na comunidade de Rio dos Touros em Urupema, a história da família de Eroni segue tantas histórias de famílias de trabalhadores rurais da serra catarinense. Expulsos de suas terras por não possuírem documentos, Eroni e seus 10 irmãos, testemunharam em vida as dificuldades dos agricultores. 

“Fizemos muitas roças, derrubamos matas virgens, lavramos terras, arrancamos caule da arvores para o plantio de alfafa e por aí afora. Foram anos que trabalhamos nessas condições e nesse tempo conseguimos fazer com que o proprietário da terra ficasse mais rico, aumentasse suas fazendas, enquanto a nossa família ficou mais empobrecida, pois saímos daquela situação em 1974”, conta Eroni o ano em que a família sai do interior e vem para Lages.

O pequeno agricultor, sem terra e meeireiro, agora com 18 anos de idade, deixou essa condição e passou a ser um morador urbano e operário, quando a madeira estava em ascensão na região. Sua família foi morar no bairro Tributo, depois Pisani e Vila Esperança, onde reside até hoje.

Foi na cidade que passou a participar nas pastorais da igreja atuando na liturgia na Capela São João Batista do bairro Tributo e depois se tornando catequista. “Meus pais sempre foram católicos praticantes, desde pequeno aprendi na família a importância da participação na vida religiosa, aprendi com o exemplo dos meus pais que um dos valores da vida era a participação na comunidade”, relembra Eroni.

A atuação dele também foi marcante na criação de Grupos de Jovens na paróquia, nos grupos de família, no Conselho Comunitário e como Ministro da Palavra, de Batismo e até como Ministro Extraordinário como testemunho qualificado do Sacramento Matrimônio, em que chegou a realizar dois casamentos e dezenas de batizados.

Mas o testemunho de fé de Eroni sempre foi pautado na Teologia da Libertação, para ele não tem evangelho que não seja instrumento para transformação da sociedade e busca do fim da desigualdade social. Nesta caminhada, adquirida com muito estudo teológico oferecido pela Diocese, Eroni fez sua trajetória pautado na busca de direitos aos mais vulneráveis. Se colocou na vida política, foi perseguido e ficou desempregado quando seus filhos, Sílvia e Helder, ainda eram crianças pequenas.

“Em 1989 fui demitido da madeireira que trabalhei por 16 anos, deixei de ser operário. Fui demitido pois eu havia se tornado um perigo para a empresa, já que o meu diálogo com os colegas de trabalho falava dos direitos dos trabalhadores, pois eu era membro e havia participado de duas oposição sindical, e ainda estava na Pastoral Operária, sem falar que em 1988 havia sido candidato a vereador pelo Partido dos Trabalhadores”, relembra Eroni. Marcado e rotulado pelas empresas, ele e sua família foram acolhidos pelos companheiros da igreja que, durante meses, foram os que mantiveram o alimento na mesa da sua casa.

Nenhuma destas caminhadas ele faz sozinho, tem ao seu lado uma companheira de vida inigualável e combativa na comunidade, Ladi Oliveira Medeiros, ou a Nega como é conhecida, sempre foi e continua sendo sua parceira. Ela que atuou durante anos nas Pastorais Sociais, da Saúde e da Criança, se revezava com o cuidado com os filhos para que Eroni pudesse se dedicar para vida da comunidade. 

Já como profissão Eroni foi conselheiro tutelar durante 3 mandatos nos anos de 1998 a 2006 e depois de 2016 até 2018 quando precisou se afastar para cuidar da saúde. Referência estadual no debate de defesa dos direitos das crianças e adolescentes, chegou a ser premiado na Assembleia Legislativa com a honraria “Amigo da Criança”. 

Agente voluntário da Cáritas Diocesana desde 1995 até 2005 quando foi incluído na equipe executiva da entidade. Trabalhando mais de 10 anos na entidade, Eroni ajudou em projetos de distribuição de alimentos para famílias vulneráveis e em cursos de capacitação de conselheiros tutelares em cidades da região.

Foi nesta entidade que recentemente Eroni foi homenageado. Referenciado como testemunho de sua fé e dedicação ele, acompanhado de sua esposa, recebeu uma placa em agradecimento aos serviços prestados.

Acometido de uma doença hereditária e sem cura, Eroni tem se mantido forte mas precisou se afastar de todos os trabalhos para se dedicar aos cuidados com sua saúde. Apesar de ter muita dificuldade na fala, Eroni celebra com o sorriso a gratidão pelo reconhecimento da sua vida doada para a transformação da sociedade e para testemunho do evangelho. 

Obs: a matéria foi escrita por sua filha que é jornalista, Silvia Medeiros, e com recortes de um depoimento de Eroni escrito sobre a sua história, antes do avançar da doença.  

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