Diocese de Lages

Testemunhos da esperança


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SE DEUS NÃO ESTIVESSE COM A GENTE, NÃO TERIA FÔLEGO PARA TANTAS COISAS

Neste mês, o Jornal Caminhada relata um pouco da história da Irmã Elice Lúcia Mattana, da Congregação Missionárias de Jesus Crucificado. Em agosto, completa 49 anos de serviço e  estemunho na Diocese de Lages. Ela nos recebeu no Centro Social Santo Antônio, bairro Morro Grande, onde desempenha seu trabalho.

Irmã Elice mora sozinha, e com 87 anos, tem uma rotina bastante puxada: “Eu levanto às 4h da manhã, esse é sagrado: minhas orações até 5h30, daí faço e tomo o meu café, abro a casa e venho para o Centro Social às 7 horas”. Afirma que gosta de chegar cedo para não se atrapalhar pelo movimento da escola próxima à sua casa. “É carro, é gente, é aluno, é cachorro, é tudo que passa lá. Na ida e na volta, prefiro passar perto da escola fora do horário de entrada e saída”. Vai almoçar em casa, mas às 13h30 está abrindo o Centro Social novamente. “Aqui toda a tarde tem coisa”.

O Centro Social Santo Antônio oferece aulas de pintura em tecido, reciclagem com caixinhas de leite, costura, artesanato, biscuí, manicure e pedicure, violão, teclado, gaita e banda. A maioria das pessoas que participam dos cursos, são dos bairros São Luís, Centenário e proximidades. Quando irmã Elice recebe alimentos do Programa Mesa Brasil, ou do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) via Cáritas Diocesana, ela distribui para as famílias mais necessitadas que frequentam os cursos ou que são cadastradas no Centro Social. Atualmente, são 90 alunos frequentando estes cursos, e 200 famílias cadastradas.

No Centro Social, há uma sala especial, com maquinários específicos para a preparação da MULTIVIDA, que também é conhecida por Multimistura da Pastoral da Criança. Há mais de 15 anos, a Pastoral da Criança vem orientando as famílias para o uso de Alimentação Enriquecida, para combater a desnutrição. A MULTIVIDA é um composto com farelo de trigo, farinha integral, germe de trigo, aveia, linhaça, konaco de soja, farinha de mandioca e farinha de milho. Quando a irmã Elice faz a MULTIVIDA, tem que ser no sábado, porque leva bastante tempo.

Eu pergunto: “E aí, quando a senhora sai daqui, volta pra casa, lá pelas 5h ou 6h da tarde?” Ela responde: “Não... às 16h30 fecho o Centro Social, daí vou fazer visitas... Tem uma doente aqui que não levanta da cama há anos, tem um outro que trabalhou muito alí na Paróquia, e também uma outra senhora, lá em cima. Enfim, faço umas visitinhas, ou vou ao centro pagar contas... telefone, internet, água, luz”.

O coordenador de Pastoral, padre Álvaro Emanoel, que está me acompanhando na entrevista, comenta que ela cuida sozinha do Centro Social Santo Antônio, organiza tudo, limpa, monta, desmonta. Eu pergunto: “A senhora não fica se sentindo cansada?” ela responde com voz firme: “Não senhora”

Infância e o despertar da vocação

Ir Elice nasceu em Sertão- RS, no dia 2 de dezembro de 1936. De descendência italiana, era a segunda de seis irmãos. Desde pequena, ajudava em tudo na Capela de sua comunidade, mas tinha medo do padre, que era muito bravo...

Despertou para a vida religiosa em Passo Fundo. “Fui participar de um retiro, a Capela pagou minha viagem e o retiro em Passo Fundo. O padre falou sobre todas as vocações - casada, solteira e vida religiosa. Naquele dia, fiquei pensando, não consegui descer para ir almoçar...fiquei pensando, pensando.” Chegando em casa, conversou com a mãe e o pai, dizendo que queria ir...A mãe disse: não, você não vai... o pai pegou o cavalo, o trem, e foi a Passo Fundo falar com a madre.

A madre disse que ela poderia fazer uma experiência no final do ano, na Casa de Retiros, pra ficar ajudando. E assim foi: “o pai me levou a Passo Fundo, chegando perto da casa tomamos uma guaraná, ele saiu chorando e eu fiquei”. Ela ficou um tempo na Casa de Retiros, e logo a irmã geral já disse: “A Elice é muito rápida, faz tudo”. E Ela entrou na Congregação Missionárias de Jesus Crucificado em 20 de abril de 1960, na abertura do 1º sacrário da Congregação. E no segundo ano, ficou na casa regional ajudando. “E a madre de lá dizia, Elice vai limpar o pátio,
cortar grama, plantar não sei o que, daí a gente ia. Quando ela chamava, tinha um sino, dava cinco badaladas: a quinta era a minha, as cinco chagas do Nosso Senhor Jesus Cristo... e realmente eu era rápida: de onde eu estava, ia atender”.

Irmã Elice trabalhou em Passo Fundo, Porto Alegre, Viamão, Florianópolis, Curitiba e participou de missões em Uruguaiana. Fez os votos perpétuos em 1974; em 1975 seu pai faleceu, o que a deixou muito abalada - demorou uns seis meses pra se recuperar - e no mês de agosto veio residir em Lages. Morava perto da livraria Diocesana com mais três irmãs. Logo que chegou, começou a auxiliar no Centro Social Santo Antônio e no Clube de Mães do Morro do Posto. Trabalhou bastante tempo com a comunidade, após uns 10 anos, foi fazer um curso da
Pastoral da Criança em Florianópolis e em seguida iniciou a implantação dessa Pastoral na Diocese de Lages. “Começamos a pesagem com quatro líderes, e depois foi se espalhando... chegamos em 23 paróquias da diocese”, explica.

Indagada sobre o que mais gosta de fazer, responde: “O que estou fazendo, tudo isso aí... Fazer aquilo que eu posso fazer e faço com muito amor”. Sobre sua vida religiosa, afirma: “Eu quero continuar a missão; corresponder também a questão da obediência e o carisma da Congregação, que é ir ao encontro dos mais necessitados. Se Deus não estivesse com a gente, não teria fôlego para tantas coisas...” Ela tem razão, não teria mesmo.

Texto e fotos: Adriana Palumbo

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