Diocese de Lages

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MÁRTIR SIGNIFICA EM SUA ORIGEM, TESTEMUNHA - SANTA IRMÃ DULCE DOS POBRES!

Nestes tempos de ARIDEZ ESPIRITUAL na alma de muitos católicos e católicas, especialmente, mas não só, pertencentes a grupos fundamentalistas, fanáticos radicais néo-conservadores, presos a um passado obscuro de menos de 500 anos do cristianismo, coligado ao poder dominante e opressor, é muito importante a festa litúrgica da Igreja no dia de hoje: SANTA DULCE DOS POBRES.

É importante afirmar que quem quiser ser um CRISTÃO CONSERVADOR, não pode ficar preso aos últimos 500 anos da Igreja, mas tem que ir 2000 anos para trás para CONSERVAR o que vem da ORIGEM do cristianismo. E a ORIGEM DO CRISTIANISMO não é o Concílio de Trento ou a Cristandade da Idade Média, mas é JESUS CRISTO e os APÓSTOLOS e APÓSTOLAS do primeiro século e seus imediatos sucessores.

Quando destaquei acima, “ARIDEZ ESPIRITUAL”, o fiz, porque ESPIRITUALIDADE no entendimento cristão, é muito, mas muuuuiiiito mais que a repetição de algumas fórmulas decoradas de orações, de atos de piedade, de comunhões eucarísticas desencarnadas e descomprometidas com a vida dos pobres e excluídos ou de confissões semanais, mas que nunca mudam a vida do confessando.

Espiritualidade não se tem, como se tem coisas. ESPIRITUALIDADE SE É.

Espiritualidade é uma vida unida e comprometida com a vida e o compromisso do Cristo Libertador e Salvador. Espiritualidade é uma vida movida pelo ESPÍRITO SANTO DE DEUS. As orações, os exercícios de espiritualidade, a participação e recepção dos sacramentos são PRÁTICAS que alimentam a ESPIRITUALIDADE para que a VIDA ESPIRITUAL não definhe, enfraqueça e até morra.

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, conhecida como IRMÃ DULCE DOS POBRES, fundamentou, alimentou e consagrou toda a sua vida àqueles aos quais Jesus Cristo fez em sua vida. Desde cedo ela foi descobrindo que ESPIRITUALIDADE CRISTÃ era assumir seu batismo na RADICALIDADE DOS VALORES DO EVANGELHO, mais que seguir tradições humanas, ou ficar presa a letra fria das Constituições ou Estatutos de uma Congregação Religiosa.

Por não somente se contentar em TER espiritualidade, mas em SER A ESPIRITUALIDADE DE CRISTO ENCARNADA na Bahia de Todos os Santos, ela conseguiu VER o que as suas colegas e co-irmãs do mesmo convento não viam: O SOFRIMENTO, A POBREZA, OS DESASSISTIDOS, OS MIGRANTES, OS SEM CASA, SEM TETO E SEM TRABALHO, OS SEM SAÚDE, OS SEM COMIDA, OS SEM REMÉDIOS, OS SEM NINGUÉM POR ELES, OS MENDIGOS SUJOS E ESFARRAPADOS, MAS SÓ EM SEUS CORPOS E ROUPAS, MAS DE ALMA GRANDE, OS DESALENTADOS.

Ela iniciou o seu MARTÍRIO, sem precisar derramar seu sangue de forma violenta. O MARTÍRIO da Irmã Dulce, foi diariamente derramar seu suor, calejar suas mãos, gastar a sola de suas sandálias, não ser compreendida por algumas de suas colegas irmãs do mesmo hábito religioso, ser mal vista e interpretada até por membros da sua Igreja, ver portas de casas, de bancos, de comércios se fechando na sua cara, indo atrás de comerciantes, de pessoas de posse, e como MENDIGA DE HÁBITO RELIGIOSO, mendigar em favor dos MENDIGOS DA VIDA, DAS RUAS, DAS FAVELAS, DOS LIXÕES.

Claro que isso mudou, mais tarde, quando seu MARTÍRIO (Testemunho) se transformou em OBRAS DE CARIDADE E ASSISTÊNCIA para com as milhares de pessoas carentes que o poder público não atendia.

PORQUE CLASSIFICO A IRMÃ DULCE DOS POBRES COMO MÁRTIR?

A resposta está em Santo Agostinho que escreveu: “MÁRTIR” significa literalmente “TESTEMUNHA”. Ele escreveu assim: “O que dizemos em grego TESTEMUNHA, em latim dizemos MÁRTIR.

No cristianismo, MÁRTIR ficou atribuído quase que exclusivamente a aqueles cristãos e cristãs que derramaram seu sangue em defesa de sua fé em Jesus Cristo, como Filho de Deus e Salvador, a partir dos Atos dos Apóstolos nos capítulos 6 e 7, que narram a vida, e o TESTEMUNHO do Diácono Estêvão. Por não renunciar seu TESTEMUNHO RADICAL de que Jesus de Nazaré é o Cristo Senhor, ASSASSINADO por apedrejamento pelos chefes do Templo, sob o poder de Pôncio Pilatos, derramando assim seu sangue como TESTEMUNHA FIEL DE JESUS CRISTO. Santo Agostinho, em relação ao uso da palavra MÁRTIR para falar daqueles que derramaram seu sangue, ele diz: “Não é a morte que, em si só, faz o mártir, mas a CAUSA pela qual a pessoa for morta”.

Muitos mártires, ao serem brutalmente assassinados, já viveram seu martírio por longos anos, doando sua vida pela CAUSA do evangelho. Irmã Dulce, mesmo não sendo assassinada e não fazendo o derramamento de seu sangue, SANGUE QUE É O SÍMBOLO MAIOR DA VIDA, foi uma vida de inteira doação e entrega, DERRAMANDO GOTA POR GOTA SUA VIDA, em cada gesto de caridade e amor em favor daquelas pessoas que não recebiam AMOR E CARIDADE por sua condição de exclusão social de um sistema econômico e político PERVERSO.

Em tudo, ela foi TESTEMUNHA VIVA de Jesus Cristo em pleno século 20. Nela Jesus amou os pobres; Nela Jesus curou os enfermos; Nela Jesus tocou as feridas dos chagados; Nela Jesus acolheu os que não tinham teto; Nela Jesus alimentou e multiplicou os pães e os peixes; Nela Jesus carregou a cruz pesada dos crucificados sociais; Nela Jesus revelou que DEUS É AMOR; Nela Jesus repetiu que quer a vida em abundância para todos e todas.

Será que todos e todas aos e as devotos e devotas da irmã Dulce dos Pobres, MAMA OS POBRES e aceitam uma IGREJA QUE FAZ OPÇÃO PELOS POBRES?

Termino dizendo ainda que houve muita dificuldade para que esta IRMÃ fosse canonizada com a inclusão de “DOS POBRES”. Muitos “cristãos e cristãs de plantão”, agarrados a uma falsa “tradição”, a queriam apenas como Irmã Dulce ou Irmã Dulce da Bahia, ou com o sublime adjetivo O ANJO BOM DA BAHIA.

PORQUE PARA MUITOS CRISTÃOS E CRISTÃS, A PALAVRA POBRE É TÃO COMUNISTA, É TÃO DIFÍCIL DE INCLUIR NA SUA FÉ E NO SEU TESTEMUNHO DE VIDA?

Santa Dulce dos Pobres, Rogai por nós!

+ Guilherme Antonio Werlang

Diocese de Lages